Entrevista com Hilman Valentim de Souza
Hilman entre as netas
Hilman Valentim de Souza é uma jovem idosa que completou nesse ano 107 primaveras. Bem cuidada pela família ela tem plena consciência do que acontece no país e a sua volta. Sabe que viver hoje e mais fácil, apesar da violência e da corrupção. Politizada participou dos comícios de Nilo Peçanha levada pelo seu Pai e condenou o suicídio de Getulio Vargas, apesar de ser sua eleitora. Saudável e Independente ainda discute suas ideias com a família. Lembra com orgulho do passado e está preparada para a morte. Sem queixas, muito embora sinta falta de interlocutores com a sua experiência e bagagem, se sente realizada.
FT – Que lembranças guarda da vida?
Hilman – Da minha infância em Minas Gerais, Manhuacu, onde as cavalgadas e a festas eram aguardadas com ansiedade, e da minha fase adulta criando meus três filhos homens em Santa Cruz, além das missas de domingo.
FT – Que lição tirou da vida?
Hilman – Que sem fé não se vive. Na Igreja Nossa Senhora da Conceição em Santa Cruz conheci o Padre Guilherme Decaminada, baixotinho; o Padre José, alto, e o Padre Luciano, esperto como ele só. Todos me ensinaram a temer a Deus e a compreender o verdadeiro sentido da vida. Viúva,
perdi meus dois filhos ainda moços – 38 e 39 anos
Hilman e o filho Wiris
FT – Se arrepende de algo que não fez?
Hilman – Fiquei viúva aos quarenta e cinco anos e a língua do povo me desestimulou… Estudei pouco, minha professora Dulce me castigou e amedrontada fiz xixi no pé dela. Meu pai me deu uma surra. A partir daí nunca mais voltei à escola. Mas meu filho Wiris que me ajuda muito até hoje me ensinou a escrever.
FT – Como foi sua vida de casada?
Hilman – Não falo do meu casamento, pois foram dias difíceis que me trouxeram para Santa Cruz, porém, lembro a história do meu avô materno quando descobriu o namoro escondido de meus pais: "ele pegou emprestado o cavalo de meu pai que para sua surpresa tomou o rumo da casa da minha mãe".
– Quero lhe falar que filha dos outros não é brinquedo!
FT – De que se orgulha?
Hilman – Da qualidade do café que produzíamos e vendíamos em Santa Cruz no nosso comércio; dos passeios que fazia ao Corcovado, ao Pão de Açúcar e a Quinta da Boa vista; meus parentes que vinham de Minas Gerais me visitar achavam aquilo uma maravilha. Do meu filho Wiris, das minhas três netas e de uma bisneta.
FT – Como é o seu dia a dia hoje?
Hilman – Rezo todas as noites com luz apagada e portas fechadas durante duas horas; durmo a maior parte do dia, não vou mas à igreja, me levam a comunhão em casa. Há seis anos que não lavo louças.
FT – Como gostaria que fosse?
Hilman – Num Asilo, quero ir para um Asilo.
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